Café Frio


Eu coloco uma música para tocar repetidamente e me aconchego na água que despenca do meu chuveiro. Relembro o gosto das tuas palavras, o teu rosto tão bem desenhado, o cheiro do teu sorriso. Eu te lembro a cada vez que o ponteiro mais comprido do relógio se move, a cada mudança de nota de um piano, mas te lembrar nas ações mais pequenas e involuntárias é quando a tua ausência mais me corrói.
Eu vou acordar daqui algumas horas, vou olhar para o seu lado da cama e o lençol nem estará bagunçado. Não haverá o cheiro do teu cabelo, nem sequer um fio dele. A tua pele não estará encostando na minha, nem teus pés enroscados nos meus. A sua respiração quente não estará esquentando meu pescoço e o gosto da saudade irá se misturar com o gosto do café frio.
As minhas manias que te tiram do sério não farão diferença, pois quando amanhecer a cama ainda continuará vazia. Eu não vou precisar andar nas pontas dos pés ao acordar, abrir a porta com cuidado, me trancar no banheiro durante minutos para parecer mais apresentável quando você acordar e nem te preparar um café doce na medida certa como você gosta. Nem ao menos terei que ver você acordar de mau humor durante os primeiros cinco minutos, ou deixar um bilhete no banheiro te lembrando da tua tão única beleza.
E que sentindo faz viver assim sem você? Eu pertenço a você, é assim que tem que ser. E se me restar apenas um café frio todas as manhãs, prefiro nunca mais ter que acordar.